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Mostrando postagens de outubro, 2017

Pindorama

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"Existem certos nomes na língua-geral, nesse curioso e bárbaro tupi-guarani, que possuem predicados sonoros, ondulações léxicas agradáveis ao ouvido. Antes mesmo de se lhes conhecer a significação,quase lírica, já se percebe alguma coisa de belo nas sílabas orquestradas dos vocábulos. Pindorama, que significa País das Palmeiras, é um deles. O termo guarda, na ressonância clara, a nota panorâmica, o sentido pagão de Flora, os encantos artísticos e plásticos dos flabelos, das ventarolas, dos leques, das plumas, das palmas, dos penachos, que se abrem sobre os caules hieráticos desses fidalgos vegetais; e ainda parece ter sido idealizado por algum trovador silvestre perdido entre os tufos de folhagem da nossa verdoenga Planície. E se um simples nome nos arrasta ao devaneio, enredando-nos o pensamento nos cipós e nas guirlandas florestais, avalie-se o que não sucede ao sábio estrangeiro, alheio a este turbilhão de plantas, a esta república de indivíduos verdes, onde em cada dez m

A palmeira jacitara e seus espinhos

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"Os verdadeiros cipós, cujo tronco principal tem o mesmo crescimento exagerado que nos arbustos-cipós se observa só em certos galhos, influem mais na fisionomia da vegetação litoral dos furos que estes. São principalmente as Passifloraceas e as Bignoniaceas [...], que envolvem os troncos e descem em elegantes festões das copas de árvores altas, produzindo aqui e acolá aquelas cortinas  de verdura matizadas de flores brancas, roxas ou cor de rosa que tanto impressionam o viajante. Munido com gavinhas, como estes cipós, encontramos ainda o Cissus sicyoides L. que entre todos os seus congêneres tem a particularidade de poder desenvolver raízes aéreas que, tais como fios suspensos, descem verticalmente dos galhos mais altos. Um dos cipós mais vistosos dos furos, notável pelos seus cachos compridos de flores escarlates, trepadas nas árvores mais altas, sem ter órgãos especiais para se agarrar nas outras plantas. [...]. Como se vê, os cipós pertencem às famílias mais diversas, com

Amazônia que eu vi: uma orquestra de mil vozes de aves

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"[...]. Esforçamo-nos de romper uma passagem por entre as hastes de arumá (Marantha) e juncos mais altos que um homem. Ainda não vemos nada, mas já uma orquestra de mil vozes de aves que vamos ouvindo cada vez mais distintamente à medida que avançamos é prenúncio de que não voltaremos sem resultado da nossa excursão. Pouco a pouco o entrelaçado da vegetação de brejo vai ficando menos denso e assim veio o momento onde as consequências de cada passo precisam ser cuidadosamente calculadas e premeditadas. Por entre as últimas hastes podemos descortinar um aspecto desembaraçado sobre uma laguna de savana de alguns centos de metros em comprimento por outros tantos em largura. A cena da vida animal que ora se apresenta aos nossos olhares é tão grandiosa e imponente que todos permanecemos estupefatos, retendo a respiração, cada um perguntando a si mesmo se o que vê é real ou não será uma "fata morgana" e deslumbramento de algum sonho; [...]. O que ali está em aves do b

O aroma do sassafrás

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"Há muito poucas flores na vegetação rasteira da floresta; elas só florescem bem no alto ou às margens da floresta, onde o sol pode alcança-las, mas há numerosas  coisas de interesse, cores variadas e folhas curiosas, trepadeiras e parasitas de estranhas formas, orquídeas, imensas árvores arqueadas, odores aromáticos ou acres, o mais comum dos quais sendo um cheiro apimentado forte que parece ser comum a muitas plantas, como a canela-cheirosa, o sassafrás e a embira-vermelha. [...]". James W. Wells (1841-?]. Explorando e viajando três mil milhas através do Brasil : do Rio de Janeiro ao Maranhão. Belo Horizonte, 1995. p. 135 . Sassafras albidum. Trew, C. J. ; Ehret, G. D. Plantae selectae . v. 7: t. 70, 1765. Desenho de G. D. Ehret

No coração da selva

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"O "varador" era estreita senda que não daria passagem a um carro de bois e cortavam-no, aqui e ali, grossos troncos que haviam caído e apodreciam sem que ninguém os removesse. Dum lado e outro, a selva. Até esse instante Alberto vira apenas as linhas marginais; surgia, agora, o coração. Era um aglomerado exuberante, arbitrário, louco, de troncos e hastes, ramaria pegada, multiforme, por onde serpeava, em curvas imprevistas, em balanços largos, em anéis repetidos, todo um mundo de lianas e parasitas verdes, que fazia de alguns trechos uma rede intransponível. Não havia caule que subisse limpo de tentáculos a expor a crista ao sol; a luz descia muito dificilmente e vinha, esfarrapando-se entre folhas, galhos e palmas, morrer na densa multidão de arbustos, cujo verde intenso e fresio nunca esmorecera com os ardores do estio. Primeiro, a folhagem seca, que cobria o chão, apodrecendo em irmandade com troncos mortos e esfarelados, dos quais já brotavam, vitoriosas para a

Uma linda flor, uma Amaryllis

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"[...]. Estando próxima a volta do verão, muitas belas árvores e arbustos estavam em flor, tais como a Visnea , de folhas sedosas e brilhantes, ruivo-pardacentas na face interior; as Rhexia , de grades flores violetas; a espécie de Melastoma com folhas de um lindo branco-prateado na face inferior; as Bignonia , com os esplêndidos ramos floridos trepando e entrelaçando-se nos arbustos acima dos quais se erguia o jenipapeiro ( Genipa americana ) de grandes flores brancas. O tom verde-escuro natural das flores do Brasil estava então atenuado pelos tenros renovos verde-amarelados ou vermelhos; e sob todas as moitas havia uma sombra mais densa, muito amena nos grandes estios, que os mosquitos, porém, tornavam bem menos aprazível ao viajante. Uma bela flor, uma Amaryllis branca de estames purpúreos, debruava as margens do rio. [...]". Maximiliano, príncipe de Wied-Neuwied (1782-1867). Viagem ao Brasil nos anos de 1815 a 1817. 1958. p. 274. Amaryllis vittata major. Collect

A Amazônia que eu vi: Monte Alegre e Ereré

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"Acompanhando todo o lado do norte do sopé da serra do Ereré, corre uma zona de terrenos baixos, pantanosos, atoladiços e cheios de nascentes de água, que pelo menos do lado de leste, escoam-se por um córrego, que vai ter ao igarapé do Ereré. Nessa zona cresce uma linda floresta e conheço poucos lugares mais pitorescos do que as fontes do Ereré ou os palmeirais de Urucuri, que tem aspecto de templo e ficam a oeste da vila. Faz-me virem à lembrança, como se fosse ainda ontem, os deliciosos banhos frios nessas fontes depois de muito andar e com extremo calor, por sobre os campos, ou depois de ter levado o dia todo a lutar com o entrançado Curuá dentro da bacia de areia por baixo de uma grande palmeira, com seu bojudo e espinhoso tronco, e com a esplêndida copa, cuja folhas, em forma de estrelas, se destacam pretas de encontro ao céu no por do sol; as palmeiras sentinelas com os troncos cobertos de uma multidão de fetos e as grandes folhas ligeiramente balançando-se ao sopro da del