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Mostrando postagens de 2017

Uma orquídea nos galhos de grande árvore

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"A tarde estava sombria, com toda a aparência de chuva; mas, quando surgiu a lua, clareou e tornou-se bela a noite. Rede e poncho estavam ainda demasiadamente úmidos para neles dormir; por isso me deitei no alto de duas malas, com os arreios por travesseiro, ao pé de grande fogo que havíamos feito antes. Na manhã seguinte, oito de setembro, continuamos o caminho, parando às onze horas sob umas árvores à beira do rio. A rota era agora em uma região mais rica que as que eu vira até então na província, coberta de matas na maior parte cheias de folhagem. Perto das casas, que apareciam mais numerosas que  até aqui, vicejavam grandes plantações de algodão, fumo, cana de açúcar e mandioca.  Nos galhos de grande árvore junto da estrada apanhei a primeira orquídea que havia visto na jornada, uma espécie de Oncidium , comprida e de folhas redondas. A árvore em que crescia era o umari [...], mas a orquídea só crescia no lado inferior do galho, com as longas folhas pendentes como ou

Maria-é-dia

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" Jovial e madrugadora, maria-já é-dia ou marido-é-dia, não permite que ninguém demore no leito, depois que a madrugada começou a roçar sua clâmide de luz pelos cabeços dos montes. Então enche a manhãzinha de gritos: maria-é-dia, maria-é-dia, convite amável para deixar o tépido aconchego dos lençóis e admirar o espetáculo sempre único do dia que desabrocha como uma flor, e cuja duração é regulada pelo subir e descambar do sol. Maria-é-dia ama as claridades solares, e quem sabe se à noite não olha ansiosa o tranquilo caminhar das estrelas, perscrutando, saudosa, os primeiros albores da madrugada. O certo é que não há dia que nos chegue, sem que ela deixe de anunciá-lo alacremente. Seu aspecto é de um pequeno bem-te-vi, ao qual se desbotassem as penas do cucuruto, que não são amarelas, mas esbranquiçadas. O dorso é, entretanto, pardo oliváceo, garganta cinzenta clara, mas o amarelo do ventre é desmaiado [...]. Em matéria de ninho, ninguém lhe dá conselhos e sabe fazê-lo co

Uma viagem iluminada pela lua

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"[...]. Deslizamos pela sinuosa corrente abaixo, passando sob enormes árvores curvadas sobre a água, e logo desembocamos no Murucupi. Poucos metros adiante, entramos no Aitituba, um canal mais largo. Atravessamos esse canal e entramos em outro estreito braço de rio, no lado oposto. Ali a maré estava contra nós e tivemos muita dificuldade em prosseguir a viagem. Depois de lutarmos contra a forte corrente numa extensão de três quilômetros, chegamos a um lugar onde a maré tinha mudado de direção, o que indicava que havíamos atravessado a linha divisória das águas. A maré flui para dentro desse canal vindo das duas extremidades simultaneamente, encontrando-se no seu centro, embora não haja aparentemente, diferença de nível e a largura do canal seja a mesma. As marés são extremamente complexas em toda a vasta rede de canais e riachos que cortam as terras do delta amazônico. A lua apareceu nesse momento e iluminou os troncos das gigantescas árvores e a ramagem da colossal palmeira ju

Verdadeiros jardins suspensos

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"[...]. Entre o solo triste dos deserdados e o alto das franças floridas há um andar intermédio, onde se apresenta uma outra vida luxuriante e multicor, verdadeiros jardins suspensos, constituídos por plantas que nas árvores gigantescas foram apenas buscar um pouco, bastando-lhes o pouco de terra que se acumula entre dois ramos, a umidade retida pelas raízes emaranhadas. É o andar das epífitas, orquídeas de flores caprichosas, gravatás de brilhante colorido, e outras, e outras muitas. Aqui e ali, rompendo a dureza de um tronco, surge a despeito da treva e da umidade, muito abaixo das suas irmãs felizes das alturas, uma flor que vem buscar a fertilização num mundo diferente, por asas diversas das que voluteia, visitando as outras  flores de sua espécie". Cândido de Mello-Leitão (1886-1948).  A vida na selva . 1940. p 9-10. Orquídea  Comparettia falcata Lindenia-iconographie des orchidées, v. 4, 1888 www.biodiversitylibrary.org

Uma formidável tempestade

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"Nessa tarde, quando regressávamos, uma formidável tempestade surpreendeu-nos na mata. O mar de frondes verdes encapelara-se de súbito, estopetado por ventania louca, que ululava com voz rugidora e ameaçante. Os pegões eram contínuos e ia no ar a zanguizarra das franças atritadas e o remoinho das folhas soltas e dos galhos partidos. Por vezes, tinha-se a impressão de que as árvores não resistiriam às lufadas mais fortes, que lhes vergavam os tronos e torciam as ramas, abrindo clareiras por onde se divisavam nesgas de um céu de chumbo. E fez-se a noite na floresta, uma noite espessa e tormentosa, entrecortada apenas de onde a onde pela fosforescência lívida dos relâmpagos. As bátegas caíam pesadas enquanto os trovões restrugiam sobre as nossas cabeças, aumentando a atoarda do furacão em que se ouvia o alarido de mil bocas em rinchavelhadas histéricas, uivos, urros e assobios. Não seria maior a algazarra se uma multidão de gigantes andasse às soltas, resfolegando uma pocema de gu

Os perfumes da mata

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"[...]. Quantos mesmo estando acostumados a mata olham sem ver tudo o que nela existe! A baunilha que abraça amorosamente o tronco da mungubeira e deixa cair generosamente, das gordas favas, gotas de mel, onde as formigas se encharcam e se besuntam. Mais adiante, o "cipó catinga" enlaça troncos impregnando do seu perfume as cascas sarabulhentas e inodoras de certas árvores. A japana, além de medicinal, possui um cheiro doce e agreste, cresce à beira dos caminhos e dentro delas saltam gafanhotos muito verdes e coleópteros com salpicos. O sol, aos poucos, sacudia o seu torpor e esquentava até as tocas das cotias, acendendo a mata de luz, calor, perfumes, cantos de pássaros, gritos de macaco e ilas, murmúrios diversos; insetos, vermes e repteis, vêm voar e deslisar gostosamente por onde pousa o sol. [...]. E. Costa Lima. O filho da cobra grande . 2. ed. 1944. p. 117-120. Baunilha. Vanilla planifolia ,  Denisse, E. Flore d´Amérique , t. 94, 1843-1846.  www. planti

Os notáveis cipós

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"[...]. Mas os cipós ainda se tornam notáveis por muitos outros aspectos. Há alguns que, como o já citado cipó-d´água e o ituá-açu, são a providência dos que se perdem na mata. Quando de qualquer deles se corta rapidamente um pedaço da haste, mais ou menos um metro, que também sem perda de tempo, deve ser logo virada para baixo, de tal modo que a sua extremidade superior passe a ser inferior, desta se escoará boa quantidade d´água, sempre límpida e fresca, apenas ligeiramente ácida. Vários se recomendam pela beleza das suas flores ou pelo delicado sabor dos seus frutos, quando não reúnem as duas coisas, como acontece com os numerosos maracujás. Outros serão aproveitados pelas qualidades estimulantes ou medicamentosas de suas sementes e, entre estes, vale por todos o guaraná. Ainda outros, pela tinta que se extrai das suas folhas, como o carajuru, ou pelos violentos tóxicos que se conseguem dos seus caules e raízes, como o dos Strychnos , que entram na composição do curare, e de

Floresta de igapó

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"O trecho da floresta, que estávamos atravessando, era um igapó, mas os pontos mais elevados do terreno só eram inundados por uma camada de poucos centímetros de água na época das chuvas. Esse trecho era composto por uma assombrosa diversidade de belas e majestosas árvores, nas quais uma infinita variedade de trepadeiras lenhosas e grossas se enroscavam e formavam caracóis e anéis, guirlandas e festões, tranças e franjas. A palmeira mais comum era a imponente Astrocaryum jauari , cujos espinhos, caídos no chão, nos obrigavam a ter o máximo cuidado ao pisar, pois estávamos todos descalços. A vegetação rasteira era rala, exceto nos trechos onde havia bambuais, os quais formavam impenetráveis moitas de plumosa folhagem e agressivas hastes cheias de nós, o que sempre nos levava a fazer uma volta para evitá-las. O chão se apresentava inteiramente atulhado de frutas podres, vagens gigantescas, folhas, ramos e troncos de árvores, dando a impressão de ser ao mesmo tempo o cemitério e o

A naturalista na floresta

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"[...].Tão distraída andou porém que a noite a surpreendeu numa clareira rasgada na floresta. O céu fosco, sem ameaça de chuva, mas também sem a rosa do sol, lembrava esses dias toldados de cinzento que aparecem no Alto Amazonas ao tempo das friagens, de maio a agosto. Calma, confiante no astro a surgir e que a orientaria, Snethlage reuniu um pouco de sacaís, ateou-lhes fogo e, para alimentá-la durante a noite, arrastou para junto da fogueira vários galhos de árvore por ali tombados. Fez a cama de folhas secas perto das labaredas e recostou-se no chão com a espingarda no regaço. Adormeceu profundamente. Ao repontar baço da claridade notou que o dia de novo não deixaria ver o disco vermelho do sol, o que a impossibilitava de se orientar ao rumo do rio. Comera na véspera o chocolate que levara. Era preciso arranjar alimentos. Prestou atenção em roda e viu uma grande árvore de caju do mato. Foi até embaixo da copa monumental onde recolheu muitas frutas, doces, vermelhos, saboroso

Em pleno rio Amazonas

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"Estamos agora em pleno rio Amazonas. O nosso barco parte as águas do rio-dos-rios, majestoso e soberbo. Paus rolam, na corrente, serena. Ao quarto dia, na fímbria do horizonte, o azul forte das serras. Começou, assim, aspecto novo para a nossa visão. O Jari...Arumanduba... A serra da Velha Pobre, com o cimo pelado e nu. Troncos esguios, retos, dourados, de folhas amarelas e secas, que brilham batidas de sol... Trepadeiras tristes que envolvem as árvores. O rio é  mais espumoso e mais cor de barro. Junto das montanhas, a vegetação torna-se mirrada, pequena, raquítica. Bananeiras que farfalham ao vento. Os ramos deitam-se sonolentos sobre o espelho líquido. O painel imutável torna-se, às vezes, monótono. Na agonia da tarde, os céus ficam translúcidos como uma lâmina rebrilhante. O rio - um lago sereno - reflete o firmamento: torna-se, também, claríssimo". Raimundo de Menezes. Nas ribas do rio-mar . 1928. p. 177-178. Bananeira. Musa paradisiaca.

Uma paisagem deslumbrante

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"A janela aberta do salão formava uma moldura para um quadro da cena lá de fora. Lá, no espelho do rio, flutuava a vasta extensão de folhas verde-claras e as delicadas flores cor-de-malva das massas de nenúfares, aqui e ali pontilhadas com as jaçanãs vermelho-castanho, que gritavam como gatinhos e cujos corpos leves e patas largas lhes permitiam correr com facilidade sobre a superfície da vegetação flutuante em busca do alimento. Cortando o centro das massas revolventes de plantas, a forte correnteza tinha formado um canal de água aberta, que brilha à luz do sol como um fio de ouro brunido. Longas linhas de mato espesso indicavam as margens do rio ao fundo, muitas carnaúbas, solitárias ou em grupos, erguem seus caules roliços, frequentemente cobertos de bromélias, samambaias e trepadeiras parasitas. Suas folhas em leque sussurram e cintilam com muitos brilhos, faiscando quando soprados pela brisa. Mais ao longe, uma cadeia de montanhas forma o último plano; seus sulcos, seus cum

Os encantos da natureza tropical

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"Com a entrada neste grande rio, toda a vegetação mudou como por magia. A mais bela floresta virgem, que nos mostrava ao mesmo tempo tudo o que é grandioso e tudo o que é encantador que tínhamos visto nas florestas do Brasil, subia pela margem do rio como se quisesse tornar-nos a despedida mais penosa no último momento ou enfeitiçar-nos com o desdobramento na tranquila magia de suas sombras, de todos os encantos da Natureza tropical. Majestosos troncos colossais com leves tetos de copas, impenetráveis maranhas de lianas quais paredes semeadas de lindas flores e entremeadas de todas as espécies de palmeiras imagináveis, cada uma procurando exceder a outra em beleza e graça, acompanhavam a margem esquerda por onde agora seguíamos. E como sabiam as palmeiras agruparem-se pitorescamente em volta das numerosas e umbrosas inflexões da floresta, como nichos, destes santuários escondidos nos quais os raios do sol da tarde quase que não podem penetrar, enquanto aqui e ali, uma audaz pass

O clima na Amazônia

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"[...]. A aproximação das nuvens de chuva se fazia de uma maneira sempre uniforme e muito interessante de se observar. Primeiramente, a fresca brisa marinha, que começava a soprar por volta das 10 horas e se ia tornando mais forte à medida que aumentava o calor do sol, diminuía de intensidade e finalmente cessava. O calor e a tensão elétrica da atmosfera tornavam-se então insuportáveis. O torpor e o desconforto se apossavam de todo mundo, e até mesmo os animais da floresta demonstravam seu mal-estar. Nuvens brancas começavam então a aparecer no leste, formando cúmulos que se iam tornando cada vez mais negros na sua parte inferior. O horizonte inteiro para os lados do leste, escurecia repentinamente, e esse negror ia subindo e se espalhando pelo céu até encobrir finalmente o sol. Ouvia-se então o rumor de uma forte ventania varrendo a floresta e agitando o topo das árvores. O vívido clarão de um relâmpago cortava o céu, seguido do estrondo do trovão, e a chuva desabava em torrent

Um espetáculo imponente

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"Fiquei deveras encantado ante a beleza da vegetação. Esta ultrapassava tudo que eu até então tinha visto. A cada volta do rio, algo de novo se nos apresentava. Ora um enorme cedro, que pendia sobre as águas, ora uma enorme árvore de algodão-seda que se destacava, como um gigante, acima da floresta. Viam-se continuamente as esbeltas palmeiras açaís em vários grupos, muitas vezes erguendo os seus troncos uns cem pés para cima, ou se arqueavam então em graciosas curvas, quase encontrando  as da margem oposta. Comumente encontrávamos também a palmeira "miriti", com os seus estípites retilíneos e cilíndricos, semelhantes a colunas gregas, tendo imensas copas de folhas em forma de leque, e de onde pendem os seus gigantescos cachos de cocos. O espetáculo era na verdade imponente. [...]. Essas palmeiras cobrem-se de trepadeiras, que sobem até alcançar as suas grimpas, onde soltam então as flores. À beira da água, veem-se numerosos arbustos em florescência, por v

Pindorama

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"Existem certos nomes na língua-geral, nesse curioso e bárbaro tupi-guarani, que possuem predicados sonoros, ondulações léxicas agradáveis ao ouvido. Antes mesmo de se lhes conhecer a significação,quase lírica, já se percebe alguma coisa de belo nas sílabas orquestradas dos vocábulos. Pindorama, que significa País das Palmeiras, é um deles. O termo guarda, na ressonância clara, a nota panorâmica, o sentido pagão de Flora, os encantos artísticos e plásticos dos flabelos, das ventarolas, dos leques, das plumas, das palmas, dos penachos, que se abrem sobre os caules hieráticos desses fidalgos vegetais; e ainda parece ter sido idealizado por algum trovador silvestre perdido entre os tufos de folhagem da nossa verdoenga Planície. E se um simples nome nos arrasta ao devaneio, enredando-nos o pensamento nos cipós e nas guirlandas florestais, avalie-se o que não sucede ao sábio estrangeiro, alheio a este turbilhão de plantas, a esta república de indivíduos verdes, onde em cada dez m

A palmeira jacitara e seus espinhos

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"Os verdadeiros cipós, cujo tronco principal tem o mesmo crescimento exagerado que nos arbustos-cipós se observa só em certos galhos, influem mais na fisionomia da vegetação litoral dos furos que estes. São principalmente as Passifloraceas e as Bignoniaceas [...], que envolvem os troncos e descem em elegantes festões das copas de árvores altas, produzindo aqui e acolá aquelas cortinas  de verdura matizadas de flores brancas, roxas ou cor de rosa que tanto impressionam o viajante. Munido com gavinhas, como estes cipós, encontramos ainda o Cissus sicyoides L. que entre todos os seus congêneres tem a particularidade de poder desenvolver raízes aéreas que, tais como fios suspensos, descem verticalmente dos galhos mais altos. Um dos cipós mais vistosos dos furos, notável pelos seus cachos compridos de flores escarlates, trepadas nas árvores mais altas, sem ter órgãos especiais para se agarrar nas outras plantas. [...]. Como se vê, os cipós pertencem às famílias mais diversas, com

Amazônia que eu vi: uma orquestra de mil vozes de aves

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"[...]. Esforçamo-nos de romper uma passagem por entre as hastes de arumá (Marantha) e juncos mais altos que um homem. Ainda não vemos nada, mas já uma orquestra de mil vozes de aves que vamos ouvindo cada vez mais distintamente à medida que avançamos é prenúncio de que não voltaremos sem resultado da nossa excursão. Pouco a pouco o entrelaçado da vegetação de brejo vai ficando menos denso e assim veio o momento onde as consequências de cada passo precisam ser cuidadosamente calculadas e premeditadas. Por entre as últimas hastes podemos descortinar um aspecto desembaraçado sobre uma laguna de savana de alguns centos de metros em comprimento por outros tantos em largura. A cena da vida animal que ora se apresenta aos nossos olhares é tão grandiosa e imponente que todos permanecemos estupefatos, retendo a respiração, cada um perguntando a si mesmo se o que vê é real ou não será uma "fata morgana" e deslumbramento de algum sonho; [...]. O que ali está em aves do b

O aroma do sassafrás

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"Há muito poucas flores na vegetação rasteira da floresta; elas só florescem bem no alto ou às margens da floresta, onde o sol pode alcança-las, mas há numerosas  coisas de interesse, cores variadas e folhas curiosas, trepadeiras e parasitas de estranhas formas, orquídeas, imensas árvores arqueadas, odores aromáticos ou acres, o mais comum dos quais sendo um cheiro apimentado forte que parece ser comum a muitas plantas, como a canela-cheirosa, o sassafrás e a embira-vermelha. [...]". James W. Wells (1841-?]. Explorando e viajando três mil milhas através do Brasil : do Rio de Janeiro ao Maranhão. Belo Horizonte, 1995. p. 135 . Sassafras albidum. Trew, C. J. ; Ehret, G. D. Plantae selectae . v. 7: t. 70, 1765. Desenho de G. D. Ehret

No coração da selva

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"O "varador" era estreita senda que não daria passagem a um carro de bois e cortavam-no, aqui e ali, grossos troncos que haviam caído e apodreciam sem que ninguém os removesse. Dum lado e outro, a selva. Até esse instante Alberto vira apenas as linhas marginais; surgia, agora, o coração. Era um aglomerado exuberante, arbitrário, louco, de troncos e hastes, ramaria pegada, multiforme, por onde serpeava, em curvas imprevistas, em balanços largos, em anéis repetidos, todo um mundo de lianas e parasitas verdes, que fazia de alguns trechos uma rede intransponível. Não havia caule que subisse limpo de tentáculos a expor a crista ao sol; a luz descia muito dificilmente e vinha, esfarrapando-se entre folhas, galhos e palmas, morrer na densa multidão de arbustos, cujo verde intenso e fresio nunca esmorecera com os ardores do estio. Primeiro, a folhagem seca, que cobria o chão, apodrecendo em irmandade com troncos mortos e esfarelados, dos quais já brotavam, vitoriosas para a

Uma linda flor, uma Amaryllis

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"[...]. Estando próxima a volta do verão, muitas belas árvores e arbustos estavam em flor, tais como a Visnea , de folhas sedosas e brilhantes, ruivo-pardacentas na face interior; as Rhexia , de grades flores violetas; a espécie de Melastoma com folhas de um lindo branco-prateado na face inferior; as Bignonia , com os esplêndidos ramos floridos trepando e entrelaçando-se nos arbustos acima dos quais se erguia o jenipapeiro ( Genipa americana ) de grandes flores brancas. O tom verde-escuro natural das flores do Brasil estava então atenuado pelos tenros renovos verde-amarelados ou vermelhos; e sob todas as moitas havia uma sombra mais densa, muito amena nos grandes estios, que os mosquitos, porém, tornavam bem menos aprazível ao viajante. Uma bela flor, uma Amaryllis branca de estames purpúreos, debruava as margens do rio. [...]". Maximiliano, príncipe de Wied-Neuwied (1782-1867). Viagem ao Brasil nos anos de 1815 a 1817. 1958. p. 274. Amaryllis vittata major. Collect

A Amazônia que eu vi: Monte Alegre e Ereré

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"Acompanhando todo o lado do norte do sopé da serra do Ereré, corre uma zona de terrenos baixos, pantanosos, atoladiços e cheios de nascentes de água, que pelo menos do lado de leste, escoam-se por um córrego, que vai ter ao igarapé do Ereré. Nessa zona cresce uma linda floresta e conheço poucos lugares mais pitorescos do que as fontes do Ereré ou os palmeirais de Urucuri, que tem aspecto de templo e ficam a oeste da vila. Faz-me virem à lembrança, como se fosse ainda ontem, os deliciosos banhos frios nessas fontes depois de muito andar e com extremo calor, por sobre os campos, ou depois de ter levado o dia todo a lutar com o entrançado Curuá dentro da bacia de areia por baixo de uma grande palmeira, com seu bojudo e espinhoso tronco, e com a esplêndida copa, cuja folhas, em forma de estrelas, se destacam pretas de encontro ao céu no por do sol; as palmeiras sentinelas com os troncos cobertos de uma multidão de fetos e as grandes folhas ligeiramente balançando-se ao sopro da del

As garças do Marajó

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"Já de longe avistamos multidões de garças de toda a espécie nas extremidades dos galhos por cima das largas copas das árvores, e quanto mais perto chegamos, maior número vemos de ninhos chatos, grandes como rodas de carros, e que aparecem como manchas escuras por entre a ramagem rala do mato. Em cada árvore contamos dúzias deles. O barulho torna-se cada vez mais ensurdecedor: ao penetrar na floresta julga a gente ter caído em um bródio de bruxaria. Garças brancas, grandes e pequenas, garças morenas, arapapás, maguaris, colhereiros, cauauans, guarás, mergulhões grandes, carará, tudo ali vive em confusão, na mais variada promiscuidade, ao lado e por cima uns dos outros, na mesma árvore, na qual muitas vezes em uma só há diversas colonias de ninhos de meia dúzia de espécies. [...]". Emílio A. Goeldi (1859-1917). Maravilhas da natureza na Ilha de Marajó (Rio Amazonas). Boletim do Museu Paraense de Historia Natural e Ethnographia (Museu Goeldi) , Belém, t. 3, fasc. 1-4, p

As majestosas palmeiras miritis

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"Ao longo dos furos de Breves existem aqui e acolá porções de terrenos semelhantes aos de Breves, mas, em geral as margens do rio são inundadas em cada maré cheia, e as casas espalhadas são construídas em cima de postes, que as elevam acima d´água. Os canais são estreitos, excessivamente profundos e cheios de água lodosa. Em verdade, tanto faz na maré cheia como na vazante, estão sempre entumescidos como se estivessem com uma enchente - E como é rica a vegetação que os cerca! - Encontram-se aqui trechos de mangues com sua linda e verde folhagem, com suas raízes principais arqueadas, com as pendentes radículas aéreas terminadas em tripeça e com suas sementes em forma de charutos; acolá o canal é bordado de ambos os lados por paredes de verdura, as pontas dos ramos roçam na superfície d´água na maré cheia e param as lindas balsas de ervas e do mururé de folha larga com suas flores azuis, e mais adiante por muitos quilômetros temos em frente as majestosas Miritis, com suas soberbas

A bonita palmeira Jará

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"[...]. Aqui vemos, também pela primeira vez, a bonita palmeira Jará, espécie de tamanho moderado, com estípite delgado e gracioso, folhas pendentes. Explorando mais adiante, encontramos um pequeno lago, de no máximo meia milha de diâmetro, todo circundado de declives fortes, exceto onde este barranco o separa do rio. Um córrego diminuto serpeia por sobre a areia e a argila, com cascatas aqui e ali, talvez a queda total possa ter vinte pés. Os camaradas chamam-no de lago de Água Preta; a água é verde escura, muito límpida e profunda, e reflete as colinas revestidas de mata que a circundam e as palmeiras caraná e javari; é tão diferente dos lagos rasos da várzea, como o Tapajós o é do Amazonas. O Lago de Tapary é, como este, um verdadeiro lago de terra firme. Ricardo afirma que em ambos encontram-se pirarucu, mas que a água é demasiada profunda para boa pescaria. [...]. Herbert Smith (1851-1919).   Herbert Smith (1851-1919). In: PAPAVERO, N. ; OVERAL, W. L. (Orgs.).  Taperinha:

A rica vegetação da floresta amazônica

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"O maior rio do mundo corre através da sua maior floresta. Imagina, se podes, dois milhões de milhas quadradas de floresta ininterrupta, exceto pelas correntes que a percorrem, pois os campos que aparecem esparsos, aqui e acolá, são tão insignificantes que eu acredito que faria maior vazio o corte de um único carvalho na maior floresta da Inglaterra do que qualquer destes campos na imensa selva amazônica. Ficas, portanto, preparado para saber que quase todas as ordens de plantas contam árvores aqui entre os seus representantes. Há gramíneas (os bambus) de 40, 60 pés e mais de altura, às vezes eretas, outras formando um intrincado de ramos espinhosos, nos quais nem o elefante poderia penetrar. Verbenas formando árvores copadas, de folhas digitadas como as dos castanheiros da Índia. Polígales que são robustas trepadeiras lenhosas, subindo até a copa das árvores mais altas, enfeitando-as com os festões de perfumadas flores que não são delas. No lugar das tuas pervincas encontramos

Richard Spruce no meio da floresta

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"Podiam-se consumir horas na derrubada de uma única árvore. O gigante que caía arrastava então outras na sua queda, vindo no seu séquito uma como desgrenhada cabeça de epífitas e parasitas. Orquídeas havia em barda; havia também colossais ciclantos com suas folhas bífidas e flabeliformes, imensamente largas. Os cipós que se estendiam de uma árvore a outra, vinham abaixo com as massas que caíam carreando na queda os parasitos como se fossem cordas de sino. Spruce recolhia as várias espécies que engrinaldavam uma única árvore. Havia a salsaparrilha, uma liana importante no comércio do seu tempo; havia a yuruparipina, anzóis do diabo, com largos espinhos agudos que podiam ferir seriamente uma pessoa. Ninhos de térmites, os quais tinham uma cor marrom, térrea, tombavam com as árvores. Choviam-lhe formigas sobre a cabeça. O baque de uma árvore desencadeava um verdadeiro pandemônio na floresta. Os macacos primeiro soltavam guinchos e corriam, depois voltavam para esganiçar. Papagaios

A espinhosa "jacitara"

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"Em alguns lugares, pequenos igarapés, ou riachos florestais, são quase inteiramente tomados por várias gramíneas trepadeiras e plantas rasteiras, entre as quais a "jacitara" ocupa um lugar proeminente e é a montante destes riachos que os índios frequentemente se deleitam em fixar residência. Em tais casos, eles nunca cortam inteiramente um ramo, mas passam e repassam diariamente em pequenas canoas que se insinuam como serpentes entre a emaranhada massa de vegetação espinhosa. Estão, portanto, quase seguros contra as incursões dos negociantes brancos, que frequentemente os atacam em seus refúgios mais distantes, levam fogo e espada para dentro de suas pacíficas casas e tornam cativos as esposas e filhos. Mas poucos homens brancos conseguem penetrar por muitos quilômetros ao longo de um pequeno e tortuoso riacho como o aqui descrito, onde não é encontrado nenhum galho quebrado ou ramo cortado que revele que algum ser humano já tenha alguma vez passado. Portanto, a espin

Vegetação do igapó

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"[...]. Deixando de lado, porém, as regiões limitadas de campos, reinam em toda parte as associações florísticas típicas do igapó, da várzea e da terra fire. O caçador usa a canoa para ir à sua caça no mato. Através de tapetes flutuantes de lentilhas d´água os índios empurram a sua canoa; talvez eles atravessem uma lagoa na qual as folhas gigantescas da Vitória régia cobrem a superfície quase por completo. Depois procura-se um lugar raso na beira para encostar. Atravessando camadas de lama entre aróideas (hoje aráceas) e espécies de Amaryllis chegamos à vegetação do igapó. Diversas plantas de Ciperáceas e de espécies de cana circundam-nos. Árvores delgadas de Cecropia erguem-se ao céu por cima de folhagem rala, e, logo quando avançamos vagarosamente por um solo mais sólido de várzea, cingem-nos moitas densas de arbustos muitas vezes espinhentos. Palmeiras movimentam as suas palmas ao vento, e, aqui e acolá, transpomos troncos de árvores caídos e em decomposição. Ali aparece um