A palmeira Miriti e suas grandes ventarolas farfalhantes


"Desejando falar mais detidamente a respeito de uma das muitas palmeiras amazônicas, foi deste ponto de vista etnográfico que recaiu a nossa escolha sobre a miriti.
De fato, já pela sua imensa área de dispersão, sabido que tanto habita a várzea, desde o estuário, como povoa os campos e aí viceja, por vezes, como nas faldas do Roraima, a mais de mil metros de altitude, já por todas as serventias que dela se podem tirar, nenhuma outra palmeira da Hileia será mais útil ao ameríndio do que a nossa Mauritia flexuosa. [...].
De espique ereto e glabro, coroado  a quarenta e até cinquenta metros de altura por um tufo de largas folhas que se dispõem quase à maneira de um leque, é de vê-la, onde quer que se apresente, seja na espessidão da mata, seja nos descampados ermos, seja isolada, seja em família, dominando sempre pela esbelteza do seu porte e a agitar no azul do céu as suas grandes ventarolas farfalhantes.
Avista-la de longe, na aridez dos grandes chapadões, é ter a certeza da boa aguada, da cabeceira acolhedora, do olho d´água dessedentante, e para ela poderá dirigir-se pressuroso o esfalfado viajor. E, se a água não houvesse pelos arredores, a própria palmeira lhe daria, na seiva do seu caule, a mais deliciosa das bebidas, um vinho extremamente doce, tão doce que, engrossado pela evaporação, se transforma em mel e este em açúcar e, se fermentado, passa a ter efeitos ebriáticos. Infelizmente, a obtenção desse licor pede o sacrifício do altaneiro vegetal. Será preciso derruba-lo e abrir no seu espique um ou mais covos, nos quais se acumulará o líquido apetecido. [...]". Gastão Cruls (1888-1959). Hileia amazônica. 2. ed. 1955. p. 52-54.
 
 
 
 
 Buriti ou Miriti.. Mauritia flexuosa.
Pintura e Louise von Panhuys (1763-1844)


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