A famosa rede!


"Uma coisa, porém, não pode faltar numa verdadeira oca de tapuia: a imprescindível, a famosa rede!
Mas, por Deus, não quero falar dessas variegadas redes de algodão, que já se tornaram artefatos anglo-americano, e são em todos os desenhos e tamanhos importados como artigo importante de comércio no Pará, e vendidas às gerações que embora não criadas em redes, preferem caro e mais largo artefato como um artigo de luxo importado da Europa.
Quero dizer aqui somente daquelas redes e trabalhos de malha e entrançados, cuja matéria-prima cresce nas airosas palmeiras, ou se oculta nas polpudas folhas das bromeliáceas, das esteiras e redes tecidas ou entretecidas de tucum e caroá.
Na série das astrocárias espinhosas, entre as quais se distinguem pelas suas várias utilidades as já citadas javari, tucumã, murumuru, etc., que eu já encontrara, subindo o Rio Negro, deve mencionar-se em primeiro lugar a Astrocaryum vulgare, uma palmeira que excede todas as outras astrocárias em brandura e resistência do parênquima dos folíolos, e que por isso fornece material técnico para vários usos.
O epitélio arrancado do folíolo das folhas novas e retorcido é esfregado e enrolado com as mãos em cima da perna, dum modo tão destro e tão hábil, que formam fios compridos e extraordinariamente consistentes e fortes, por sua vez reunidos e retorcidos até formar um cordão relativamente grosso, com o qual tecem uma grande rede de malhas frouxas e elásticas. Em ambas as extremidades dessa rede, prendem-se cordões mais grossos de tucum, reunidos num só feixe, presos a uma corda, para ser pendurada à vontade nos pontos fixos escolhidos. Assim nasce a mais encantadora rede-cama que se baloiça no ar, e cujos cordões e malhas muitas vezes são tintos de encarnado e amarelo-claro. Qualquer pessoa pode armá-la e deitar-se nela sem o menor receio; duas pessoas mesmo precisam ser muito pesadas para que ela se rompa sob o seu peso reunido. A dormida nessas camas suspensas e baloiçantes é muito fresca e agradável, sobretudo quando, depois de alguma prática se acerta em deitar-se obliquamente e estender-se comodamente nelas [...]." Robert Avé-Lallemant (1812-1884). No Rio Amazonas (1859). 1980, p. 114-115.
 
 
Viajante em sua rede. 
Desenho de E. Riou .
J. Creveaux. .Voyage d´exploration dans l´intêrieur des Guyanes. 1876-1877.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Tajá: uma planta interessante

Lendas e curiosidades: O Tucano e seu grande bico!

Lendas e Curiosidades: O Sabiá-laranjeira.