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Mostrando postagens de julho, 2015

Nesses bosquezinhos de fadas...

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  "[...]. Seguindo o canal, chegamos à floresta densa; e justamente lá dentro está uma nascente magnífica, ou antes um lago, de onde corre a água. Abençoo sempre o bom senso que deixou este lugar intocado pelo machado ou facão. É tão isolado aqui que os animais da floresta chegam para beber; tão silencioso, que o estalar de um pequeno ramo ecoa na colina coberta de mata. A cem pés acima, as folhas das palmeiras tremem com o respirar do vento; mas a água em baixo é maravilhosamente lisa: uma folha, girando-lhe na superfície, envia diminutas ondulações até às margens. Bem lá em baixo, a cena se reflete como  nenhum artista poderia pinta-la, como nenhuma pena poderia descreve-la: a etérea leveza das palmeiras açaí, a grega dos samambaiaçus, a soberba floresta dominante, e a glória de mil manhãs envolvendo tudo isso. Até nossas diminutas ilhotas receberam o toque e o retoque de dedos amantes até conseguir-se o impossível nesses bosquezinhos de fadas e as palmeiras se inclinam com

Encontro com papagaios

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"[...]. Muito me surpreendeu, também, o encontro com papagaios. Essas aves, muito comuns em todas as florestas do Brasil, só podem ser vistas no momento em que levantam voo, pois sua plumagem verde as dissimula na folhagem. Mas, ao aproximar-se o homem, elas se traem, pois começam a gritar agudamente e levantam voo. Tanto no voo como no descanso, os pares ficam sempre juntos; mesmo quando bem alto, no ar, podem-se conhecer e distinguir os casais, que se mantém à distância de um pé um do outro. [...]. Os bandos de papagaios não são grandes, sendo em geral de 6 a 8 indivíduos. Durante o voo, fazem ouvir seus gritos estridentes ao passarem por um cavaleiro solitário. Voam rapidamente, batendo as asas com grade velocidade e mantêm-se bastante elevados, pois têm como pouso as árvores mais altas. Alimentam-se de frutos de casca dura, [...]. Algumas vezes, ouvi o ruído da queda das cascas de nozes que abriam, antes ainda de vê-los levantar voo, com grande algazarra. Enquanto trabalha

As borboletas no Amazonas

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"As borboletas são tantas e de tantas espécies no Amazonas, que não menos o fazem divertido que abundante: umas brancas e tão alvas como neve; outras vermelhas, já de carmesim, já de púrpura; como veludo estas; aquelas salpicadas à maneira de cravos: roxas umas, outras azuis; e finalmente de tantas cores, quantas produziu a natureza e inventou a pintura. Há uma espécie de borboletas amarelas que frequentam muito as praias dos rios em tão numerosos e inumeráveis bandos, que fazem amarelizar as mesmas praias; onde quase sempre pousam; ou porque nelas buscam alguma lambujem com que se sustentam, ou porque a elas vão beber. São todas as borboletas não só sustento, mas também regalo para muitos pássaros, que as caçam. Por outra parte se fazem muito estimáveis pelas suas belas cores, e mansidão, que dos voláteis são os mais inocentes. Os índios por mui propensos a agouros também os tem com as borboletas, ou com alguma  das suas espécies, pelo que, quando alguma lhe entra em casa, ou

Curica, meu pequeno papagaio!

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"Antes mesmo de termos chegado ao Uaupés, voltando para Manaus, eu já programava uma nova viagem. Portanto, quando chegamos à Missão Salesiana, em Tapurucuará, organizei de modo improvisado um passeio, para que Paulo e eu fôssemos em uma missão no rio Marauiá, onde vivia um padre solitário chamado Antônio Goes, e sobre o qual jorravam histórias lendárias. Passei o dia trabalhando com as plantas que colhi durante minha viagem ao pico da Neblina. A maior parte das espécies parecia ter sobrevivido, mas sem dúvida uma chuvarada cairia como uma benção. Paulo me ajudou fazendo um ótimo trabalho, enquanto Curica, um pequeno papagaio que eu havia adquirido algumas semanas antes, observava sentado em uma árvore, se divertindo imensamente. Havia decidido abrir a porta de sua gaiola tão logo chegamos a Tapurucuará, pois não consegui suportar a ideia de a ave ficar confinada em um espaço tão pequeno. Ele me pareceu contente por sair da gaiola e ficou empoleirado em um galho próximo enqua

A ruidosa festa das asas

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"Com esse povoamento interno das lagunas começa a ruidosa festa das asas. Os possantes jaburus alvinegros de voo lento e pesado, aterram vagarosamente. O fresco aspecto das águas transmite-lhes deliciosos estremecimentos de frio. Abrem os triângulos das asas poderosas, riçam a seda da volumosa plumagem e iniciam, com elegante altivez, a cauta e meticulosa pescaria. Antes, porém, da caça aos languidos gasterópodos, elevam o orgulhoso colo, examinando se pelas cercanias não existe algum inimigo, agachado por detrás das moitas da crescida canarana. Chegam depois os primeiros bandos das bravas marrecas. Tracejam no ar os longos volteios das manobras inspecionadoras e baixam, pressurosas, sobre os rasos alagadiços. Sempre receosas  vigilantes, aos primeiros rebates do convencionado alarma, irrompem em revoada alistridente, enfileirando-se aos pares, enchendo o espaço com a sua azoinadora e assustada gritaria. [...]".  Alfredo Ladislau. Terra imatura. 2. ed. 1925, p. 37-38.

A flor do maracujá

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"Deixando a cidade, seguimos por uma estrada suburbana direita, construída acima do nível das terras circunvizinhas. O terreno apresentava-se alagadiço de um e outro lado, mas estava edificado, vendo-se várias rocinhas espaçosas, mergulhadas na magnífica vegetação. Passada a última casa, chegamos a um ponto onde a majestosa floresta se erguia, como dupla muralha, a cinco ou seis jardas do caminho, até uma altura provável de 100 pés. Só de vez em quando víamos parte dos troncos das árvores, estando a mata quase toda fechada, do chão ao topo, coberta por um reposteiro de trepadeiras, variegado de todos os tons mais brilhantes do verde. Era raro ver-se uma flor, exceto as do maracujá, que surgiam aqui e ali; como solitárias estrelas escarlates recamando o manto verde." Henry Walter Bates (1825-1892). O naturalista no rio Amazonas . 1944, v. 1, p. 75.       Flores e frutos de maracujá. Flor da paixão. Marianne North (1830-1890). www.kew.org 

Um penumbroso caminho!

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"Partimos ao amanhecer numa pequena igarité manobrada por seis jovens remadores indígenas. Depois de navegarmos quatro quilômetros e meio através do trecho mais largo do igarapé - o qual, rodeado pela mata, tem a aparência de uma lagoa - chegamos a um ponto onde nosso caminho foi interrompido por uma impenetrável barreira de árvores e arbustos. Levamos algum tempo para encontrar uma passagem, mas quando nos vimos dentro da mata causou-me admiração o cenário que tinha diante dos olhos. Foi o meu primeiro contato com esses singulares caminhos aquáticos. Uma estreita alameda razoavelmente reta, estendia-se diante de nós a perder de vista; de cada lado, a copa dos arbustos e de árvores baixas formava uma espécie de borda ao longo do caminho, enquanto que troncos de gigantescas árvores se elevavam da água a intervalos irregulares, suas ramagens se entrelaçando muito acima de nossas cabeças e formando um espesso dossel. Finas raízes aéreas pendiam em feixes do alto, e alças de cipó de

A famosa rede!

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"Uma coisa, porém, não pode faltar numa verdadeira oca de tapuia: a imprescindível, a famosa rede! Mas, por Deus, não quero falar dessas variegadas redes de algodão, que já se tornaram artefatos anglo-americano, e são em todos os desenhos e tamanhos importados como artigo importante de comércio no Pará, e vendidas às gerações que embora não criadas em redes, preferem caro e mais largo artefato como um artigo de luxo importado da Europa. Quero dizer aqui somente daquelas redes e trabalhos de malha e entrançados, cuja matéria-prima cresce nas airosas palmeiras, ou se oculta nas polpudas folhas das bromeliáceas, das esteiras e redes tecidas ou entretecidas de tucum e caroá. Na série das astrocárias espinhosas, entre as quais se distinguem pelas suas várias utilidades as já citadas javari, tucumã, murumuru, etc., que eu já encontrara, subindo o Rio Negro, deve mencionar-se em primeiro lugar a Astrocaryum vulgare , uma palmeira que excede todas as outras astrocárias em brandura