Tajá


"A etnobotânica tem, entre os inúmeros vegetais ligados às crenças, superstições e usos dos indígenas e dos caboclos da Amazônia, os Tajás. Conhecidos, entre os civilizados, pelas denominações de tinhorões e caladios, foram eles batizados, consoante a botânica indígena, pelo nome Tajá.
Segundo E. Stradelli Taiá "é nome comum a muitas plantas que se distinguem pelas largas folhas, formando toiça, muitas vezes elegante e caprichosamente manchadas, do gênero Caladium e afins".
O mesmo autor enumera as seguintes espécies de Tajá:
"Taiá-embá  é uma espécie que toma a forma de tajá sem sê-lo como aliás diz o nome "não tajá".
Taiá-peua, tajambeba, tajapeba - tajá de raiz chata.
Taiá-pinima - tajá-pintado
Tajá-piranga - tajá-vermelho, tajá pintado de vermelho. É entre estes que, parece, estão as espécies mais venenosas. É um tajá de largas manchas vermelhas, cor de sangue, de cujas raízes os indígenas do Uaupés extraem o veneno que propinam às mulheres condenadas à morte por terem surpreendido alguns dos segredos do Jurupari.
Tajá-puru - tajá a cuja raiz se atribui a propriedade de trazer a felicidade nos amores e de tornar marupiara (feliz) a quem o trás consigo, pelo que se encontra muito cultivado especialmente no Baixo Amazonas."
F. C. Hoehne escreve: "Uma das plantas mais interessantes, pela enorme semelhança do seu caule com o corpo de uma serpente, do gênero Lachesis, encontramos no gênero Staurostigma, que tem muitos representantes nas matas aqui do Sul. No Norte aparece ainda Dracontium, que também tem os pecíolos foliares e os pedúnculos florais maculados como uma "Jararaca", a ponto de poderem ser confundidos com esta serpente quando cortados e postos no meio da estrada. F. C. Hoehne comenta também: "Como plantas ornamentais todas elas se recomendam muito graças à folhagem que, embora verde puro, como na maioria das espécies têm formas estéticas e brilho agradável. Mas nas formas maculadas do gênero Caladium a jardinocultura também já soube tirar excelentes elementos decorativos para estufas e salões. As largas bainhas que sustentam as espigas florais, do gênero Anthurium são muito decorativas também e, por fim, citaremos ainda o "Copo de leite" ou "Caladio", que pela sua inflorescência, é muito apreciado como planta de adorno e para produzir material para enfeite".
Todos os tajás têm história, diz Nunes Pereira. "O espírito ou a alma de um pássaro se encarna numa dessas espécies de aráceas: o "tajá que pia"; e o tamba-tajá, que está ligado à vida amorosa da gente simples e romântica da Amazônia.
Do tamba-tajá dizem, em Tracuateua, no Estado do Pará, que tem "um macaquinho às costas", referindo-se à pequena folha que lhe aparece (nem sempre em todas) colada à página inferior das principais, e nela se vendo, também, um coração rudimentar. Do que ali é conhecido com o nome de Cala-a-boca dizem, na Amazônia, em geral, que, quando se mostra verde, algo de mau ocorrerá. O tajá Rio Branco protege a casa; e do Rio Negro, se ela é invadida dentre as suas folhas saem dois homens que afugentam as feras, os intrusos e os maus espíritos.
Há uma arácea, com idênticas virtudes mágicas que se denomina Puraquê. Todas essas forças mágicas nos são reveladas pelos índios e seus mestiços.
Osvaldo Orico nos diz que "É variada e encantadora, na Amazônia, a superstição do tajá. Existe na família das aróideas uma profusão de espécies que se prestam, admiravelmente, às abusões do povo. Entre estas, vale citar o tajá-cobra. Diz-se que protege a casa contra os ladrões. Uma folha, posta na parede, estende-se em volta e toma conta do domicílio. Se este é visitado por gatunos, o tajá-cobra reconhece o meliante e dá-lhe o bote, tal como o faria uma serpente. História semelhante é atribuída ao tajá-onça.
A mais bela versão é, entretanto, emprestada ao tajá-sol. Possui este, no centro da folha, uma grande mancha vermelha como o formato de um coração, cercado pela moldura verde. Quando os índios estavam longe de sua amada e sentiam a necessidade de vê-la, recorriam a um processo mais veloz que o aeroplano e menos dispendioso que a televisão. Gritavam pelo nome da pessoa desejada no centro do tajá de sol. E logo a imagem do ente querido aparecia na parte rubra da folha, como num espelho incendiado pelo poder da ausência. [...]".
 
 
 
Caladium sp.  William Curtis, 1787.
 
 
 
 
 
 
 
Para saber mais:
 
 
 
 
HOEHNE, F. C. Plantas e substâncias vegetais tóxicas e medicinais. São Paulo: Graphicars, 1939. 354 p. il.
 
ORICO, Osvaldo. Mitos ameríndios e crendices amazônicas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília, INL, 1975. 296 p. (Retratos do Brasil, v. 93).
 
PEREIRA, M. Nunes. Moronguetá: um decameron indígena. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967. 2 v.
 
RESQUE, Olímpia Reis. Amazônia Exótica: curiosidades da floresta. Belém: Swedenborg Comércio de Livros e Artes, 2012. 263 p. il.
 

STRADELLI, Ermano. Vocabularios da língua geral português-nheêngatu e nheengatu-portuguez, precedidos de um esboço de gramática nheênga-umbuê-saua mirî e seguidos de contos em língua nheêngatu poranduba. Revista do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro. Rio de Janeiro, t. 104, v. 158. 1929.

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