Lendas e curiosidades: Pavão-do-mato, o pássaro de guarda-sol!


"A vida na selva, parece um eterno carnaval. Os animais vivem cobertos de peles e penas, que mais parecem fantasias de carnaval que vestimenta apropriada para floresta. Existem colibris de plumagem verde-bronzeada e cobertos de joias. As borboletas lembram confete a encher o espaço, ou gotas multicores, caídas da palheta de um pintor. Alguns insetos são enormes e tem chifres, como se fossem rinocerontes. Há moscas que imitam aranhas e mariposas que imitam colibris. E até a nossa velha amiga preguiça passeia lentamente em meio a esse carnaval, com o pelo coberto de algas verdes.
Na selva devemos acostumar-nos a coisas espantosas. Mas parece espantoso demais uma ave andar de chapéu-de-sol. Se tomássemos uma pequena gralha (o pavão-do-mato assemelha-se de longe a isso) e colocássemos em sua cabeça um chapeuzinho de sol franjado de preto, como antigamente usavam os nossos bisavós, talvez conseguíssemos imitar o aspecto de nosso pássaro. Agora vamos abrir o guarda-sol e prendê-lo bem firme na cabeça da ave, de modo que as franjas caiam sobre a sua cabeça e quase lhe cobrem os grandes olhos pretos e o bico pontudo. E depois coloquemos no peito da nossa gralha, um penduricalho pesado e feito de penas, como os babados postiços que as senhoras usavam há uns trinta anos, e que chegue até os pés. Teremos, afinal, o retrato do pavão-do-mato. Assim ataviado com seu guarda-sol de franjas pretas e o seu plumoso babado, o pavão -do-mato passeia o dia inteiro pela selva, à procura de pequeninos cocos. Detesta o calor. Prefere as partes mais frescas da mata onde os raios do sol equatorial são filtrados e abrandados pelo ar mais fresco da floresta.
De manhãzinha  voa na parte mais alta da floresta e depois à medida que o sol vai subindo, ele desce e, quando chega o meio-dia, já se encontra no "segundo andar" da floresta. Aí tira uma soneca, dormindo a sesta. [...].
É curioso, mas talvez não seja de se estranhar, que os índios também considerem ave mágica o pavão-da-mata. Os caçadores de cabeças chamavam-no de "ungumi", o que quer dizer "portador da flecha encantada". Não há quem ignore o que seja a flecha encantada. Em tempos idos os homens acreditavam que, quando doentes, eram encantados por uma pequena flecha, que  uma fada má colocava em seu corpo. Nisso ainda acreditam muitos índios da América do Sul, que, quando sentem alguma dor, supõem seja ela causada por uma flecha, lançada pelo feiticeiro e levada pelo pavão-do-mato. [...].
A verdade é que o pavão-do-mato não parece preocupar-se muito com essa história mágica. Sua vida consiste em cantar, comer e voar. Ei-lo que abre as asas, sacode o babado, levanta o chapéu-de-sol e voa alto na selva. [...]". Victor W. von Hagen (1908-1985). Animais da América do Sul. s.d. p. 91-93.
 
 
 
Pavão-do-mato, Pavão-da-mata ou Anambé-preto (Cephalopterus ornatus)
Desenho de Antônio Martins. Brasil: 500 pássaros. 2000.


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