Viajantes: O pirarucu e seus hábitos!

"O pirarucu, como a grande maioria dos peixes da água doce, procura alimentar-se ao entardecer e ao amanhecer; durante o dia, quando o calor é intenso, mete-se por baixo dos araçazais e canaranas, ou busca outra qualquer sombra para fugir dos raios abrasadores do sol amazônico, deixando-se ficar quieto no fundo da água e dela surgindo algumas vezes para tomar o gole de ar; o pirarucu alimenta-se de outros pequenos peixes e por isso é muito frequente vê-lo boiar onde haja cardume de jaraquis.
Alguns peixes, os aerófagos, necessitando do ar livre atmosférico para satisfazerem a necessidade do fenômeno da hematose, sobem à superfície, de espaço a espaço engolindo uma porção de ar, satisfeita essa necessidade, descem para o fundo, expelindo então o excesso de ar aspirado, que sobe à flor da água como um rosário de bolhas; [...]. O pirarucu sempre surge à tona e, quando não o faz de modo visível e estrepitoso, põe muito cautelosamente apenas a ponta do focinho para fora, desaparecendo imediata e silenciosamente, sem nada mais deixar que uma série de círculos concêntricos na superfície quieta dos lagos. Na bacia amazônica, de novembro em diante, quando as primeiras chuvas começam a encher os rios e os baixios marginais, chamados igapós, o pirarucu busca esses lugares de água limpa e rasa para preparar o ninho. O instinto natural de conservação faz com que o peixe procure para isso, os pontos menos frequentados pelos jacarés e pelas terríveis piranhas, inimigas declaradas da sua prole. É assim que vemos o casal de pirarucus escolher de preferência, os igapós dos igarapés, por baixo do mato ralo onde a limpidez das águas lhes permite avistar, de longe, o inimigo e prevenir-se para a defesa. Aí nesses sítios com um metro e pouco de profundidade, é que celebram a sua festa nupcial, debatendo-se, às rabanadas, em alvoroço intenso, ora assomando à tona, ora imergindo os corpos desmesurados por entre a galharia da terra inundada. [...]". Agenor Couto de Magalhães. In: SILVA, Hermano Ribeiro da. Nos sertões do Araguaia. 1935, p. 70-71.
 
 
 
 
Pirarucu (Arapaima gigas)
Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815).
Viagem Filosófica pelas Capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá (1783-1792).


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