Viajantes: O mês de julho na Amazônia!


"O mês de julho ia correndo muito farto. Abundavam o peixe, a caça, a fruta. A mudança do tempo surgira com a vazante, característico sinal do grande calendário amazônico. O descer das águas no aranhol hidrográfico vira a folha do almanaque e a estação adquire um cunho de primavera, maximé na pestana verde e ribeirinha dos rios. Aí, nessa quadra pitoresca e risonha, a hiléia matiza-se de flores. Gritam o vermelho e o amarelo na umbela das árvores. É uma festa da natureza presidida por alguma divindade silvestre. Os paus d´arco se cobrem de ouro e violeta. Os cipós enfeitam-se de corolas. As orquídeas explodem em ramalhetes, em buquês, em cachos de campainhas e cálices brancos, roxos, pintados, cróceos. O cheiro que se exala dessas caçoletas aéreas, entornando fragrâncias no éter, guarda a sutileza de essências de serralhos e de templos. Em certos recantos da selva, sobretudo na muralha de verdura das beiradas, a floração é tão alta  que evoca um jardim de gigantes, pois as catleias e os catasetuns desabrocham lá nos fusos superiores. Os litorâneos taxizeiros, abrindo as flores como as hortênsias, brancas, vermelhas, azuladas, ferruginosas, reforçam a beleza marginal da mata nesses meses em que a água baixa. A floresta volve-se, enfim, numa fonte de aromas numa sinfonia de perfumes, numa onda de essências." Raimundo Morais (1872-1941). Os Igaraunas. 1985, p. 148-149.
 
 
Catasetum saccatum (Orchidaceae).
Margaret Mee. In search of flowers of the Amazon Forests. 1989.


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