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Viajantes: A palmeira Patauá.

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"Estou muito interessado nas palmeiras, que aqui são bem mais numerosas do que em Santarém. Acredito que haja entre elas muitas espécies ainda não descritas. Chamo a atenção, dentre as espécies novas, para uma Maximiliana, uma Euterpe , uma Iriartea e duas ou três Geonomae . [...]. Talvez a mais nobre palmeira das florestas de Barra seja o Patauá, cujos troncos, às vezes atingem 80 pés [24,4m] de altura, encimados por frondes enormes. Uma espádice completa, carregada de frutos é carga bem pesada para um homem. As drupas dão muito óleo, aqui utilizado apenas para o preparo de um vinho semelhante ao do açaí. Com poucos anos, o tronco fica coberto de espinhos delgados e rígidos, de cerca de 2 pés [61 cm] de comprimento, de ponta voltada para cima. Trata-se das nervuras do revestimento basal daqueles pecíolos do qual se desprendem o parênquima, e que os nativos chamam de "barba-de-patauá". Quando o tronco atinge 15 ou 20 pés [4,57-6,09m], a "barba" existente

Viajantes: Uapés

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"Sobre a água sobrenadam, condensados e unidos, os uapés de mil formas. Entre estes distingue-se um de folhas redondas, verde- avermelhadas, do meio dos quais surdem alvas flores, golpeadas de escarlate, de feitio de estrelas, cujas finas hastes carmesins vêm-se mergulhar através da água cristalina com ondulações airosas de serpentes. Isolada quase, formando um mundo à parte, nos remansos tranquilos de um lago menos batido dos pescadores, e mais perto da terra-firme, a vitória-régia, o "forno de jacaré" dos naturais, desdobra as enormes folhas circulares de bordas cairelados de vivo carmesim virados para cima como um forno indígena, e ergue pouco fora d´água suas grandes flores semiesféricas: de manhã, alvas como a pena da garça, de tarde, cor-de-rosa como o papo da colhereira; dominando apesar de arredada, pela sua estranha e selvagem beleza e pelas extraordinárias proporções do seu tamanho, toda a luxuriosa flora aquática da região. José Veríssimo (1857-1916). Cena

Viajantes: Os cestos de açaí.

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"Em suas voltas pela mata, os Tapuias haviam enchido com frutos do açaizeiro um daqueles cestos que eles fazem num piscar de olhos com um único galho de árvore. Um pintor teria apreciado o contraste de cores entre o violeta escuro dos frutos do açaí e o verde tenro e brilhante da suas folhas, mas um cesteiro teria certamente se maravilhado com a presteza com que esses índios haviam feito um cesto com seus pecíolos e folíolos". Paul Marcoy (1815-1888). Viagem pelo rio Amazonas . 2001, p. 242.       Os cestos (paneiros) de açaí.  Os caminhos de Belém.  The routes of Belém. Rio de Janeiro, Agir, 1996. 

Literatura: A Palmeira

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A Palmeira   A palmeira Jauari, mais altaneira que alta, a solidão prefere da várzea do Jarauá.   A quem a longa leveza do seu talhe comove, a palmeira moça estende a graça da elegância que me estremece inteiro o gosto de estar vivo.   Do vento ela entende as sílabas e os silêncios: sílabas do canto que as palmas aprendem, silêncios do espanto de saber  que segregam sua futura fúria.   Nos dedos longos do ar me chega o seu cheiro de palmeira moça. Para tê-la de perto (me leva uma estrela) atravesso o fulgor do pleno meio-dia sobre o verde da infância.   Toda a floresta vibra. Na sombra exígua da moça palmeira me deito inconsútil serena alegria.   Thiago de Mello In: MELLO, Thiago. Mamirauá. Tefé (AM): Sociedade Civil Mamirauá, 2002.         Astrocaryum jauari J. Barbosa Rodrigues (1842-1909) . Sertum palmarum brasiliensium :ou Relation des palmiers nouveax du Brésil, découverts, décrits et dess

Lendas e Curiosidades: A voz das aves!

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"Na Amazônia, o grande despertador do trabalho, da festa, da reza, o aparelho em suma que anuncia o nascer do sol e o cair da noite, é a voz das aves. O canto dos pássaros, melhor que outro qualquer sinal da natureza, guia o homem, deita-o e levanta-o da rede, chama-o para os movimentos adstintos à vida livre e quase mômade que o atrai na planície imensa. [...]. Existem sem dúvida outras vozes na planície tal a dos sapos, lembrando tambores, remar de canoas, roncos de feras; tal a das cigarras, cujo macho canta e a fêmea estridula; tal a do grilo, a das abelhas, a das onças; nenhuma porém como a voz das aves, precisa e oportuna na trasladação dos astros, no encher e no vazar da maré, no embravecer ou amansar dos ventos. A Maria-já-é-dia, por exemplo, é quem assinala, do fundo escuro da noite, as primeiras tintas da aurora. E nem o galo é tão minucioso quanto ela, que só canta depois de ver, no seio misterioso do céu, um rasgão de claridade. Seu grito, de ritmo igual ao do pr

Viajantes: Macaquinhos na floresta.

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"[...]. Poucos dias atrás, ouvi um ruído estranho e um estrondo na mata, que a princípio não conseguia explicar. Por um momento, pensei que uma gigantesca árvore tinha caído no meio da mata, tamanho foi o estalo da galharia; notei, então, que o barulho mudava de lugar e achei que era o estouro de um bando de animais de grande porte, quem sabe até porcos selvagens correndo pelo mato. Por fim, quando o barulho que vinha em minha direção estava bem perto, ouvi também o chilro agudo e estridente com o qual  todos os nossos macaquinhos se distinguem, porém sem conseguir ver nada além de alguma sombra por entre os galhos, de vez em quando. Então, de repente, surgiu numa copa de palmeira mais baixa, bem perto de mim, uma cabecinha: duas orelhinhas pontudas e cara rosada com focinho preto permitiram reconhecer, na mesma hora, o meu predileto do jardim zoológico, o macaco-de-cheiro ( Chrysotrix sciurea ), atual Saimiri sciureus . Por vários instantes, ficamos nos olhando imóveis, cheios

Vocabulário histórico da Amazônia e sua presença na literatura: Jiquitaia.

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JIQUITAIA - Formiga de pequeno porte, geralmente avermelhada, cuja ferroada é muito dolorosa.   ETIMOLOGIA - Segundo o Prof. Pirajá da Silva: Jequitaia - Gequitaia, corruptela de cigie-taia : "o que queima". Para o Dr.  Vicente Chermont de Miranda  a pimenta malagueta seca e reduzida a pó é conhecida pelo mesmo nome, pois a picada dessa formiga  arde como pimenta. Sin./Var.: formiga-lava-pés, lava-pés, caga-fogo, formiga-brava, formiga-de-fogo, formiga-quente, formiga-malagueta, formiga-ruiva, itaciba, jequitaia, mordedeira, queima-queima, taciba.   LITERATURA: Francisco de Barros Junior narra seu encontro com essas formigas:   "A formiga-de-fogo, assim denominada vulgarmente pela sua coloração avermelhada, e semelhança a queimaduras, a sensação provocada por suas picadas, é o martírio dos caçadores e pescadores dessas terras. Quando a enchente ganha a planície, as formigas dessa espécie  abandonam seus ninhos subterrâneos e sobem para as árvores, busca

Lendas e Curiosidades: O Sabiá-laranjeira.

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"Apesar de Goeldi não lhe ter apreciado o canto, dizendo que seus trinados não passam de um "furi-furi" levado ao infinito e, nem, tão pouco ter manifestado simpatia por essa alminha encantadora de Gonçalves Dias, eu o classificarei dentre os nossos pássaros cantores genuinamente brasileiros, como o primus inter pares. Se tenho razão, não discuto. Julgo que, talvez, esse meu modo de pensar seja questão de profundo entusiasmo que lhe dedico a ponto de reconhece-lo um artista impecável do canto. Vou, pois apresenta-lo aos meus leitores, em primeiro lugar, não como espécimen raro, merecedor de análise circunstanciada no meio ornitológico, mas, tão somente, como um dos maiores cantores da primavera. Quem o não conhece? É ele o mais simpático da família, tanto pela compleição magnífica do corpo, como também pelo brilhante talento musical, fazendo a seus pares enorme sombra. Olhinhos vivos, cabeça altamente erguida, peito arquejante, uma das pernas escondida por en

Viajantes: Que dia delicioso!

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"Que dia delicioso! Mas o termo delicioso é demasiado fraco para exprimir os sentimentos do naturalista que, pela vez primeira, erra numa floresta brasileira. A elegância das ervas, a novidade das plantas parasitas, a beleza das flores, o verde ofuscante da folhagem e, mais que tudo isso, o vigor e o brilho geral da vegetação, enchem-me de espanto. Qualquer pessoa que ame as ciências da natureza experimenta, num dia como o de hoje, um prazer, uma alegria tão intensa, como não pode esperar sentir igual nunca mais". Charles Darwin (1809-1882). In: MELLO-LEITÃO, Candido. A vida na selva. São Paulo, 1940, p. 2.       Ilustração de Margareth Mee (1909-1988) Flores da floresta amazônica.  2010. 

Viajantes: Cajueiro

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"[...]. Entre as árvores que então estavam em flor, a mais abundante era o cajueiro ( Anacardium occidentale , L.). Destacava-se entre eles um velho espécime, de casca nodosa e galhos que tocavam o chão de todos os lados, com folhas recentes, de uma delicada coloração pardo-avermelhada, e numerosos frutos amarelos ou rubros (melhor dizendo, seus pedicelos dilatados), parecidos com peras, cada qual tendo embaixo dele uma castanha em forma de rim (que é o fruto propriamente dito). Tratava-se de um exemplar arbóreo bem pitoresco, apesar de seu tamanho modesto". Richard Spruce (1817-1893). Notas de um botânico na Amazônia . 2006, p. 77.         Desenho de  Mark Catesby Sec. XVIII 

Viajantes: Uma paisagem maravilhosa!

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"O arvoredo desdobra-se, pouco a pouco, em toda sua opulência. Massas de folhagem sobem em trepadeiras verde-claro até às copas e dependuram-se até embaixo como vigorosas velas formando altos e redondos caramanchões. Por toda a parte raízes enormes  e lisas, de cor cinza finas ou grossas como braços, parecem amarras de navio a que estivesse presas enxarcias vindas lá do alto, desaparecendo no matagal florido ou enroscando-se nos troncos. O que se torna de surpreendente efeito é que ali nunca se vê o rio diante de si como uma estrada comprida, pois a cada meio ou um quilômetro há sempre uma volta a dar, aparecendo então uma nova paisagem maravilhosa. Os pássaros levantam-se em voo, sendo o mais elegante a garça esbelta e branca de neve, formando  contraste com a cor da espessa mata, onde não existe uma linha  reta, nem se nota, ao mesmo tempo, formações de contornos regulares. Frequentemente, o nosso conhecido  "Maçarico", de cores tão brilhantes, é chamado por aqui de

Viajantes: Viagem no "rei dos rios".

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"Com a entrada no rei dos rios encontramos novamente o vento geral, que de agora em diante se nos apresentava tão contrário, quanto nos favorecera na nossa viagem rio acima. Com exceção de um curto momento em que pela manhã cedo nos detivemos em Tapará, [...], lutamos quase todo o dia contra ele. [...]. Soprou hoje, com tanta violência que, juntamente com o preamar, desviou o igarité para leste, num movimento remoinhante. Fomos por isso obrigados a cortar varas, para poder impedir com grande trabalho o barco junto aos exemplares de Caladium e juncais da margem. Para a tarde, porém, o vento contrário amainou e não tardou que o céu estendesse seu manto estrelado no qual brilhava o Cruzeiro do Sul, por cima das águas escuras do Gigantesco Amazonas, como se quisesse festejar também a noite de Natal. [...]" Adalberto, Príncipe da Prússia (1811-1873). Brasil: Amazônia-Xingu . 2002, p. 357.       Caladium.  L´illustration horticole. Gand, 1891. 

Viajantes: As garças brancas nos rios do Pantanal.

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"É particularmente ao cair da tarde que mais empolgante se tornam as cenas da natureza para quem sobe os grandes rios do Pantanal. Bandos incontáveis de aves mergulhadoras e ribeirinhas acorrem de todos os lados, convergindo para a fronde das árvores mais altas, não raro, por este sacrifício, inteiramente despojadas de folhas. As de cada espécie preferem de ordinário a companhia de suas semelhantes, tingindo assim a ramagem de pontilhado uniforme. À passagem do barco, a multidão inquieta estremece, vacila e agita as asas, pronta a seguir o exemplo daquele que, mais prudente ou espantadiço ergue-se no ar, projetando nos céus claros a sua silhueta característica. As garças brancas [...], obedecendo o estilo de sua numerosa parentela dobram em S o longo pescoço, estiram as patas para trás em prolongamento à cauda curta, e fendem os ares em lento bater de asas, com o bico apontado para diante; [...]". Olivério Pinto. Notas de uma viagem fluvial a Cuiabá. Boletim do Museu Paraen

Viajantes: A estranha e linda mariposa Urania leilus.

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"Chegamos ao sítio de nossa caçada por volta das quatro e meia. O canal era mais largo e apresentava várias ramificações. Faltava ainda hora e meia para o amanhecer e Raimundo aconselhou-me que cochilasse um pouco. Deitamos os dois nos bancos da canoa e adormecemos, deixando o bote vogando ao sabor da maré, então em calmaria. Dormi bem, apesar da dureza do leito, e quando despertei, no meio de um sonho com imagens da pátria, rompia a madrugada. Minha roupa estava úmida de orvalho. As aves agitavam-se, as cigarras começavam a sua música e a Urania leilus , estranha e linda mariposa de asas com um prolongamento caudal e de variegadas cores, de hábito semelhante aos das borboletas, começava a esvoaçar em bandos na copa das árvores. Raimundo exclamou: "Clareia o dia"!" A mudança foi rápida. O céu, para o nascente, tomou de súbito o mais formoso azul, no qual se destacavam estreitas faixas de alvas nuvens. Em tais momentos a gente sente como é realmente formosa a terra

Reflexões: Hora íntima.

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  Quando o tédio vier, nas noites indormidas, terei de preencher o vazio das horas. Terei que dar sentido aos momentos estéreis para não mergulhar no vácuo do não-ser.   Deverei ponderar sobre o que não criei, sobre o desvalimento da presença inútil, sobre a palavra dita em momento indevido e sobre a negação de um gesto ou de um olhar.   Deverei meditar sobre o quanto não fiz, sobre os passos levados pelos descaminhos, sobre a inglória omissão a um apelo de amor, sobre a invasão da dor na hora inoportuna.   Deverei resolver fracassos renegados, assumir erro e culpa, acordar sofrimentos que causei, ao vencer talvez espezinhando impunemente ou não outras almas em ruínas.   Deverei descansar minha própria aparência, surgir diante de mim como quem se confessa, como quem se revela, em face da verdade, para viver na luz, para dormir em paz.   Dulcinéa Paraense   Extraído de: PARAENSE, Dulcinéa. Dulcinéa Paraense a flor da pele . Bel

Vocabulário histórico da Amazônia e sua presença na literatura: Sapopema.

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SAPOPEMA : grandes raízes que envolvem a base do tronco e  se elevam, às vezes, a dois metros de altura.    ETIMOLOGIA : Do Guarani hapó 'raiz' + pembi 'tecedura', segundo Braz da Costa Rubim em Vocábulos indígenas e outros introduzidos no uso vulgar. Revista do Instituto Histórico e Geografico , t. 45, p. 1, 1882. Sin./Var.: sapupema, sapopemba.   LITERATURA : Álvaro Maia   comenta:   "Nada se vê, a dois metros de distância: as embarcações param, os motores abeiram aos barrancos. Canoas afoitas descem o rio, perto do escuro das margens, guiadas pelas correntezas espumantes e, muitas vezes, perdem os rumos. As buzinas acordam os moradores. As bordoadas nas sapopemas, troando matas afora, servem para anunciar o caçador ou o seringueiro, que regressa da apanha do leite. A sapopema acorda a alegria, - alguém vara as brenhas, um sopro de vida perpassa sob as árvores, uma voz vegetal saúda as barracas, que dormem ao longe." Álvaro Maia. Gente do

Viajantes: Palmeiras espinhosas!

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"[...]. Não disponho de referências no tocante às palmeiras, e tenho estado atualmente em locais onde essas plantas são muito interessantes. É bem verdade que sua coleta e preservação são extremamente difíceis. Uma palmeira espinhosa, colhida nas profundezas da mata, num lugar distante do ponto onde se encontra a canoa, é uma carga difícil de ser transportada por um homem. Além disso, trata-se de um transporte extremamente desconfortável, pois as mãos de quem a arrasta estão constantemente sendo usadas para cortar e afastar os cipós que obstruem o caminho". Richard Spruce (1817-1893). Notas de um botânico na Amazônia . 2006, p. 170.     Desmoncus paraensis Barb. Rodr. J. Barbosa Rodrigues. Sertum palmarum brasiliensium. 1989. 

Viajantes: Acampamento dentro da grande mata!

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"A noite desce com presteza; a luz do fogo dança por sobre os troncos e galhos. É muito sossegado aqui na profundeza da mata. Nos campos abertos e perto das cidades há o concerto repicante dos insetos e o choro das aves noturnas; em volta dos lagos da várzea há o coaxar e o cricrilar dos grilos e os peixes a saltarem nos rasos. Nada disso é ouvido em nosso acampamento; não há sinal de vida, exceto as estranhas mariposas que adejam sobre a fogueira e, vez ou outra, o sussurro de algum animal no mato; um veado, talvez, atraído pela luz. Ficamos muito tempo acordados, como acontece num primeiro acampamento, vigiando os tições que se apagam e cismando vagamente! Que ponto minúsculo é o nosso acampamento dentro da grande mata!" Herbert Smith (1851-1919). In: PAPAVERO, N. ; OVERAL, W. L. (Orgs.)  Taperinha: histórico das pesquisas de história natural realizadas em uma fazenda da região de Santarém, no Pará, nos séculos XIX e XX . Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2011.  

Viajantes: Variedade infinita de flores!

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"[...]. Algumas árvores ainda estão despidas de folhas, outras se cobrem de folhagem acinzentada ou amarelada, ao passo que outras, ainda, se colorem de matizes róseos e vermelho brilhante. A cor normal é um verde escuro; todas as tonalidades de verde, contudo, aparecem desde o verde  apagado do alho-porro até o verde vivo da esmeralda. Enquanto muitas árvores estão cobertas de frutas, muitas outras estão cobertas de flores, e, nesse ponto, também, se manifesta uma variedade infinita. As flores  cor de ouro e de púrpura são as que primeiro atraem a vista; não há falta, contudo, de flores azuis e brancas, róseas e roxas, carmesins e escarlates. Todas elas carregam de perfume  a atmosfera úmida e pesada e, mais uma vez, a variedade se faz sentir, a variedade de cheiros, desde a fragrância da baunilha e do cipó-cravo até o pau-d´alho, que espalha o cheiro que lhe dá o nome por cem metros em torno". Richard Burton (1821-1890). Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho . 2001,

Lendas e Curiosidades: "Quinhentos pássaros, quinhentas crianças"!

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"Peço licença ao dono da festa para trazer aquela garça que atravessa nesse instante o Paraná do Ramos, que banha a minha Barreirinha. Vem no vento, as asas imóveis, são pura luz. Á suavidade do seu voo, solitário e silencioso, parece um cântico. Preciosa prenda da Natureza, que nos convence de que nela - e não na literatura, por mais fantástica que seja - é que está a realidade mágica, o real maravilhoso do reino desse mundo. Trago também o canto dos pássaros noturnos. O bacurau, que semeia pela noite as sementes do cacau, como canta o poeta Aníbal Beça. As corujas que velam cantando meu sono. São várias, cada qual com seu jeito sonoro de atravessar a noite. O canto delas é grave de timbre, mas longe de ser triste. O que mais me afaga é o da coruja brancona, que mora nas palmas mais altas da inajazeira. Quando a noite vai findando, todas cantam juntas: é um canto prolongado e um tanto aflito, com o qual elas se despedem das estrelas. Só não trago a suinara, que os caboclos c

Viajantes: A decoração dos troncos e galhos na floresta!

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"A floresta  era singularmente desprovida do denso mato rasteiro habitual e muitas clareiras e aberturas encantadoras entre as imponentes árvores formavam cenários de beleza silvestre. Conspícuas entre árvores ficavam as gameleiras gigantes em arco, muitas delas cingidas por profusas lianas envolventes, como por exemplo a Monstera deliciosa , e recobertas de bromélias floridas de carmim brilhante. Árvores delicadas, samambaias e palmeiras de guariroba e jeribá suavizam, com sua folhagem recortada,  o contorno escuro dos troncos maciços. Cipós pendiam em longas linhas suspensas como o cordame de um navio, ou formavam curvas graciosas de árvore a árvore; numerosas orquídeas, parasitas, musgos e líquens decoravam os troncos e galhos, a tal ponto que quase cada uma das árvores era um jardim por si só". James W. Wells (1841-?). Explorando e viajando três mil milhas através do Brasil: do Rio de Janeiro ao Maranhão . 1995. v. 2, p. 11-12.     Ilustração de Margaret Mee (190

Viajantes: Uma árvore colossal!

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"Martius e Spix ficaram deslumbrados diante de uma árvore colossal, por eles encontrada em uma floresta de terra firme, segundo ele nos conta na notícia dada sob o título "Arbores ante Christum natum enatae, in silva juxta fluvium Amazonum", nas "Tabulae Physionomicae Explicatae" (Flora brasiliensis, v. 1, pars I). As 11 pessoas que compunham a caravana, de mãos dadas, não puderam abraçar essa árvore gigantesca; a sua circunferência era de 25 metros. [...]. Diz Martius que essa árvore lhe deu a impressão de um rochedo que se elevasse verticalmente. Duas outras árvores semelhantes em majestade, porém um pouco menos grossas, achavam-se próximas e formavam, com a primeira, um quadro de uma grandiosidade sem igual." Álvaro Astolpho da Silveira. Narrativas e memórias . v. 1  p. 17-18. 1924.     C. Fr. von Martius (1794-1868) Physiognomicae in Flora Brasiliensis. 1850. 

Lendas e curiosidades: O Tucano e seu grande bico!

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"Porque os índios chamam de ave do diabo o tucano, não pensem vocês que nele vamos encontrar uma segunda águia. O tucano é um devorador de frutas e ovos, mas não de carne. Recebeu o nome de ave do diabo apenas porque os índios pensam que ele, de fato, assim seja. Supõem que, com seu comprido bico, o tucano enfeitice as pessoas. Mas na verdade nada existe de diabólico no aspecto do tucano. Rir será a primeira coisa que vocês farão quando o enxergarem, pois na cabeça que encima o seu corpo coberto de penas escuras, existe um bico comprido, do tamanho do próprio corpo. [...]. O bico do tucano pode ter quase vinte centímetros de comprimento e cinco de largura. Alguns têm o bico amarelo e vermelho, ao passo que outros têm-no amarelo e preto. Na realidade, todas as cores do arco-iris podem estar representadas no bico do tucano. Lembra ele o nariz do Pinóquio, que tivesse crescido muito além da conta. E para que esse bico? Ninguém até hoje descobriu. Dizem os índios que o tucano é

Belém do Grão-Pará: A Biblioteca do Museu Paraense.

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"[...]. O Museu Paraense deve ter sua biblioteca, e até uma muito boa sobre ciências naturais e etnologia, especialmente em relação a tudo que diz respeito à Amazônia. [...]. É preciso que haja todas as obras que constituem o cabedal do estado atual das ciências naturais relativas à Amazônia (tomada na noção da geografia física), pois é claro, que nenhum de nós poderia discutir com sucesso perante o científico qualquer problema da natureza indígena sem conhecer antes de tudo, bem aquilo que outros autores a respeito já disseram e deixaram arquivado na literatura dos diversos tempos e povos. É esta norma, que invariavelmente nos guia na formação da nossa Biblioteca". Dr. Emílio  A. Goeldi (1859-1917). Relatório apresentado pelo Diretor do Museu Paraense ao Sr. Dr. Lauro Sodré, Governador do Estado do Pará.   Boletim do Museu Paraense de História Natural e Ethnographia, Belém , t 1 e 2, 1896, 1898.       Prédio da Biblioteca do Museu Paraense até a década de 80. A

Viajantes: A selva brasileira.

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"Tais indicações pouco positivas não bastam para caracterizar a selva brasileira em suas regiões mais baixas e quentes, mas não é difícil torna-la mais característica por meio de outras qualidades negativas. Aí não existe o feto arborescente, com suas folhas finas, às margens dos rios, nem o palmito delgado, debaixo do teto protetor das árvores dicotiledôneas. Estas últimas não gostam da sombra escura da floresta, assim como os primeiros não se dão com o solo pantanoso e horizontal. Ao lado destas duas espécies, faltam ainda a embaúba (Cecrópia) e as taquaras (Bambusas), que são das regiões mais elevadas. Onde  estas vegetam em abundância, não se encontra a tonca ou a sapucaia, e uma vegetação muito diferente e mais amena oferece-se à admiração do viajante. De um lado, temos a natureza verdejante, frágil, graciosa e alegre, que atrai e encanta, de outro, a formação gigantesca, majestosa e serena, que nos enche de deslumbramento e contrição e que convida a meditações sérias, como

Lendas e curiosidades: Pavão-do-mato, o pássaro de guarda-sol!

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"A vida na selva, parece um eterno carnaval. Os animais vivem cobertos de peles e penas, que mais parecem fantasias de carnaval que vestimenta apropriada para floresta. Existem colibris de plumagem verde-bronzeada e cobertos de joias. As borboletas lembram confete a encher o espaço, ou gotas multicores, caídas da palheta de um pintor. Alguns insetos são enormes e tem chifres, como se fossem rinocerontes. Há moscas que imitam aranhas e mariposas que imitam colibris. E até a nossa velha amiga preguiça passeia lentamente em meio a esse carnaval, com o pelo coberto de algas verdes. Na selva devemos acostumar-nos a coisas espantosas. Mas parece espantoso demais uma ave andar de chapéu-de-sol. Se tomássemos uma pequena gralha (o pavão-do-mato assemelha-se de longe a isso) e colocássemos em sua cabeça um chapeuzinho de sol franjado de preto, como antigamente usavam os nossos bisavós, talvez conseguíssemos imitar o aspecto de nosso pássaro. Agora vamos abrir o guarda-sol e prendê-lo b

Belém do Grão-Pará: A Estrada de São José!

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"[...]. As grandes praças, outrora verdadeiros lodaçais, tinham sido drenadas, capinadas e plantadas com fileiras de amendoeiras e casuarinas, transformando-se em belos ornamentos para a cidade, ao invés de constituírem um triste espetáculo para os olhos, como ocorria no passado. Minha avenida predileta, a Estrada das Mongubeiras, tinha sido reformada e ligada a várias outras magníficas avenidas orladas de árvores que em poucos anos tinham crescido o suficiente para proporcionarem uma agradável sombra; uma delas, denominada Estrada de São José, tinha sido toda plantada de coqueiros. Sessenta veículos para transporte coletivo, além de cabriolés (muitos deles fabricados no Pará) enchiam agora as ruas, contribuindo para aumentar a animação das bonitas praças, ruas e avenidas". Henry Walter Bates (1825-1892). Um naturalista no rio Amazonas . 1979, p. 296.     Praça São José, à entrada da Av. 16 de novembro (antiga Estrada de São José) em 1901. O Município de Belém: re

Viajantes: A beleza e a deliciosa fragrância das orquídeas!

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"Antes do nascer do sol deixamos o nosso pouso incômodo. A estrada conduzia-nos, agora, ao longo de uma planície estreita e arenosa que se estendia entre o mar e as lagunas salgadas do litoral. Nenhum interesse possuiria a paisagem se não fosse o grande número de lindas aves ribeirinhas, como as garças e os grous, e a suculência das plantas que se revestiam de formas fantásticas. As poucas árvores atrofiadas que se viam, estavam cobertas de plantas parasitas, entre as quais se podiam admirar a beleza e deliciosa fragrância de algumas orquídeas. Depois de nascido o sol, o dia tornou-se intoleravelmente quente, e a areia branca, refletindo a luz e o calor, causou-nos intenso mal-estar. Charles Darwin (1809-1882). Viagem de um naturalista ao redor do mundo . 1948, p. 32.       Orquídea. Oncidium concolor . Nativa do Brasil. Orchid Album. 1882. 

Lendas e Curiosidades: A palmeira tucumã no fabulário amazônico.

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"O tucumã ( Astrocaryum tucuma Mart.), também espinhoso, entrave a qualquer marcha linheira na mata, de belo porte e frutos apreciáveis, concorre para aumentar o fabulário. É o caso que a filha da cobra grande tendo se casado com um moço bonito, isto no tempo em que a noite ainda estava adormecida no seio das águas, não queria, por hipótese nenhuma, se deitar de dia. Então o marido mandou buscar, com o pai da esposa, a noite desejada. Enviaram-na dentro do coquinho do Tucumã, com recomendação expressa de não o violarem. Durante a viagem os portadores ouviram dentro da encomenda um ruído estranho, que parecia de grilos, de sapinhos, de cigarras, de insetos. Alvoroçaram-se. E apesar das ordens terminantes de não abrirem a noz, durante a jornada, a curiosidade os empolgou e venceu. E assim que a partiram, a escuridão alagou o espaço. Haviam soltado a noite. Ora, o que a lenda não explica, é o ruído dentro do caroço ouvido pelos portadores e que não passa de uma larva surgida com o

Viajantes: A vegetação aquática.

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"Quando saímos da floresta, entramos na imensidão do lago. Mas temos de passar ainda sobre os tapetes das canaranas, ou seguir canais serpenteantes, antes de chegarmos às bacias onde navegaremos sem obstáculos. Sentimos o alívio de quem se livrasse de um túmulo. Respiramos com delícia o ar puro da madrugada, ainda não permitindo devassar todo o magnífico cenário. Mas sob o equador, a transição das trevas para a luz e vice-versa, é tão rápida, que deixa pasmos as ádvenas de altas ou baixas latitudes. Está ainda escuro. Mas como se fora em um cenário de teatro, vai clareando com rapidez. Os objetos mais próximos, vão ficando nítidos, os mais distantes vão se destacando, delineando-se, os contornos tomando relevo, surgindo límpidas as cores. E quando damos fé, já é dia. O sol espia vermelho como uma boca de fornalha, permitindo-nos entretanto encara-lo, velado pela imperceptível umidade que satura a atmosfera. A paisagem é grandiosa. Há imensas superfícies livres de vegetação,